A comunicação do diagnóstico em oncologia: a recusa ou aceitação do que está por vir

Na oncologia, a comunicação é essencial para favorecer a adesão ao tratamento e facilitar o processo de diagnóstico, tratamento, reabilitação ou morte. O tema chama a atenção ao perceber o quanto é preciso ficar vigilante quanto ao modo como as pessoas acomodam as notícias e as vivências, para que assim seja possível trabalhar da melhor forma, quando permitido pelo paciente.

O psicólogo que trabalha com portadores de doenças crônicas – como o câncer - deve ter uma postura mais ativa, com foco no adoecimento e nas preocupações do momento, visando sempre um atendimento humanizado e global ao doente. Tendo em vista que a comunicação deve ser um processo de construção diária, essencialmente singular e fundamental, os aspectos psicológicos da comunicação em oncologia podem definir a recusa ou a aceitação do que está por vir.

Há relatos de acompanhantes dos pacientes que, quando foram encaminhados ao oncologista, ou até mesmo a um hospital de tratamento do câncer e a própria Casa de Apoio, sofreram grande impacto, pois há a criação de uma série de fantasias nesse momento. A palavra “câncer”, muitas vezes, está associada à ideia de “sentença de morte” e o lugar de atendimento pode dizer algo, antes mesmo da notícia do diagnóstico chegar.

Sobre a comunicação de um diagnóstico, é válido lembrar que é direito inalienável do cidadão ter acesso as informações que dizem respeito, a sua saúde e ao seu corpo. Segundo o Código de Ética Médica (Art. 59), “é obrigação do médico informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e objetivos”. O paciente tem o direito de escolher saber ou não saber e o médico tem o dever de contar e trabalhar dentro das possibilidades de desejo do paciente e/ou desse familiar. A qualidade da comunicação, a forma como o diagnóstico é comunicado, repercute no futuro da relação da tríade, paciente-família-equipe, cabendo ao psico-oncologista ser um facilitador da comunicação entre estes.

Precisamos ficar atentos ao modo como o paciente recebe e acomoda aquilo que foi dito, como a informação chega e não apenas com o conteúdo do que foi dito. O psicólogo pode intervir no momento anterior a comunicação do diagnóstico (pré-diagnóstico), a fim de observar, por exemplo: os sinais de ansiedade e angústia; a disponibilidade de escuta; os medos, fantasias, crenças, estigmas e preconceitos; mecanismos de defesa; sobrecarga emocional; o apoio familiar; a rede de apoio social; os recursos de enfrentamento; a dinâmica de personalidade e o nível de conhecimento sobre a doença.

Já no momento da comunicação do diagnóstico, o psicólogo pode ser um facilitador nesse processo, oferecendo suporte ao paciente, aos familiares e ao profissional de saúde, uma vez que a fase do diagnóstico é considerada como um momento em que há a emergência de sentimentos e emoções acumulados durante a espera do resultado. Nessa fase,  também ocorre o encontro com o desconhecido, caracterizando um momento de angústia e desorganização psíquica. O psico-oncologista pode criar um espaço de acolhimento, para a expressão de sentimentos, em que se possa elaborar suas angústias, sofrimentos, além das dores emocionais e assim, resgatar as estratégias de enfrentamento, favorecendo a adesão ao tratamento que está por vir.

Há relatos de familiares que optam por saber de todas as informações acerca da doença do seu filho na fase do diagnóstico, como os riscos e o prognóstico. Como também, existem familiares que escolhem não saber dos detalhes nesse momento e ter acesso às informações de maneira gradativa durante o processo de tratamento. Considerando que a comunicação do diagnóstico pode ser realizada da maneira mais leve possível pelo profissional e que os pacientes/familiares podem não acomodar a notícia e as vivências de modo tão confortável, é necessário trabalhar e respeitar a autonomia e as singularidades do paciente e de seus familiares, tendo em vista que a comunicação pode definir a recusa ou a aceitação do tratamento.

Por Laíse Santos Cabral de Oliveira - Psicóloga - CRP 17-3166

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