Necessidade da autonomia da criança frente ao câncer

Diante o adoecimento, tem se tornado cada vez mais comum os pais assumirem o papel de protagonista da vida do filho, provocando uma regressão comportamental ainda maior do que o esperado. A criança que já conseguia tomar banho só, lavar sua calcinha ou cueca, após o banho, dentre outras tarefas simples, não faz mais, porque os pais não deixam.

Afinal, a imagem que se tem de um sujeito portador de uma doença ameaçadora de morte é de extrema vulnerabilidade e debilitação, quando, na verdade, a autonomia deve ser estimulada respeitando os limites de cada um. A partir do momento em que esse paciente é colocado numa posição passividade, apresenta-se de uma maneira subliminar para ele, que: “Você não tem mais condições de fazer nada”.

É natural a proteção em volta do adoecimento, tendo em vista que o câncer é cercado por restrições e cuidados específicos, mas a criança precisa se desenvolver em meio a doença. Exemplo disso é a própria escola, que não deixa de estar na sua vida. Ele precisa passar por uma adaptação, de acordo com as suas necessidades e idade escolar, assim como, é necessário, também, que a criança não deixe de brincar ou de participar das atividades de casa e da comunidade.

Para isso, se faz necessário pensar em estratégias diferenciadas, inclusivas e que respeitem o seu estado de saúde. É preciso deixar claro que o câncer não é sentença de morte, mas sim, um momento que exige reinvenção e adaptações, para que seja mostrada, tanto a família como a criança, as novas possibilidades. Esse ideal é comum a todos os serviços e profissionais, que atuam na linha de frente na Casa Durval Paiva.

As crianças são ensinadas sobre resiliência e novas possibilidades de como estudar, os adolescentes conhecem possibilidades de desenvolvimento de competências profissionais e os pais, que, muitas vezes, precisam largar o emprego para se dedicar ao tratamento, descobrem maneiras de estimular novas potencialidades.

Esse trabalho é realizado através de oficinas e cursos, voltados para o empreendedorismo e reinserção social, como forma de equilibrar o tempo, voltando ao tratamento, dando o start da geração de renda, diante do adoecimento.

Neste viés, é apresentado que o câncer é uma doença, mas que oferece possibilidades de tratamentos curativos e paliativos. Com o mesmo objetivo, são proporcionados alguns momentos de “vida normal”, contudo, há outros casos que precisam de mais cuidados e atenção. Dessa forma, o desenvolvimento não para, então, não há motivos para parar. Dentro das possibilidades de cada paciente, busca-se proporcionar qualidade de vida.

Por Ana Kariny Cabral Araújo - Psicóloga Casa Durval Paiva - CRP 17/46665

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