Cuidados odontológicos em pacientes com anemia falciforme

A anemia falciforme é uma doença hematológica crônica sistêmica e hereditária, caracterizada pela alteração na forma dos glóbulos vermelhos do sangue (hemácias), cuja forma é semelhante a uma foice. Por ter a forma alterada, essas células se rompem mais facilmente e não conseguem transportar oxigênio para os órgãos, causando anemia e prejudicando a saúde de todos os tecidos do corpo.

A anemia falciforme é a doença hereditária mais prevalente no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, a triagem neonatal nos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro mostra a incidência de traço falciforme de 1 a cada 21 nascidos vivos e de doença falciforme de 1 a cada 1.200 nascimentos. Na Bahia, são 1 a cada 650 para a doença e 1 a cada 17 para o traço. Com base nesses dados, acredita-se que nasçam no país, anualmente, cerca de 3.500 crianças com a doença falciforme e 200.000 portadores de traço. A condição é mais comum em indivíduos da raça negra.

A anemia falciforme tem períodos de agudização, conhecidos como crises vaso-oclusivas ou crises dolorosas. Cada surto dura de 3 a 10 dias e alguns agentes desencadeadores das crises são: Infecções, desidratação, acidose, hipertermia, estresse emocional e exercícios físicos rigorosos. A dor decorrente da insuficiência vascular é irradiada e os locais mais comumente comprometidos são os ossos, pulmões, regiões abdominal e dorsal, fígado, cérebro e baço. A evolução da doença pode gerar complicações em qualquer parte do organismo, principalmente, nas áreas mais comprometidas pela hipóxia e pelo infarto.

Entre os sinais e sintomas mais frequentes estão icterícia; palidez da pele e das mucosas; úlceras nas pernas; organomegalia; alterações cardíacas em decorrência da hipóxia miocárdica; complicações do sistema nervoso central, principalmente na forma de cefaleias, convulsões, hemiplegia e acidentes vasculares cerebrais. É possível encontrar alterações ósseas, hepatomegalia, hematúria, insuficiência pulmonar e renal, cálculos pigmentares na vesícula, produzidos pela hiperbilirrubinemia. Ocasionalmente, ocorrem alterações oculares, caracterizadas por infartos retinianos, retinite proliferante e deslocamento de retina.

Apesar de ter sido considerado um tipo de doença essencialmente da infância e atingir a mortalidade de até 20%, antes dos três anos de idade, o diagnóstico feito logo após o nascimento e os avanços das pesquisas clínicas têm aumentado a expectativa de vida dos indivíduos acometidos. Fator importante para tal melhora é que as complicações agudas, especialmente durante a infância, passaram a ser reconhecidas mais precocemente.

A cada dia, aumentam o número de portadores de anemia falciforme que procuram tratamento odontológico de rotina, muitas vezes por recomendação médica. O tratamento odontológico deve ser realizado durante a fase crônica da doença e quando não houver evidências de início de uma crise. A susceptibilidade às infecções que a anemia falciforme causa nos pacientes é um fator importante e relevante para o atendimento odontológico. Estes são considerados imunodeprimidos, principalmente devido à asplenia funcional.

Por isso, é sabido que infecções bucais podem gerar infecções em outros órgãos do organismo, as chamadas infecções metastáticas de origem bucal. Elas podem ocorrer, principalmente, devido à possibilidade de bactérias presentes na placa bacteriana e nas lesões infecciosas se aprofundarem nos tecidos e/ou terem acesso à circulação linfática e sanguínea, causando bacteremias e, assim, serem veiculadas para outros órgãos onde podem se instalar, colonizar e causar lesões.

Desta forma, justifica-se realizar profilaxia antibiótica, exceto nas crianças que fazem uso diário de antibiótico, o que é bastante frequente até, aproximadamente, os 5 anos de idade, frente à procedimentos invasivos, que possam gerar sangramento e promover bacteremia.

Na casa Durval Paiva, o serviço de odontologia oferece assistência odontológica às crianças e adolescentes portadores de anemia falciforme, oferecendo tratamentos odontológicos seguros, sempre visando a prevenção de infecções bucais e o aumento da qualidade de vida.

Por Anna Crisllainy da Costa Monteiro - Odontopediatra Casa Durval Paiva - CRO/RN 4839

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