Terapia Ocupacional e Tecnologia assistiva na oncologia pediátrica - 2012

 

Em doenças crônicas como o câncer, encontramos diversas limitações, sejam elas provenientes da doença ou do próprio tratamento. Essas limitações acarretam prejuízos funcionais, emocionais e até mesmo sociais para o paciente. Atividades simples como escovar os dentes, tomar banho, locomover-se, conversar, usar o computador, entre outras, podem se tornar tarefas difíceis de serem executadas.

Para ajudar a superar essas limitações, proporcionar autonomia e independência, e dispensar cada vez mais a ajuda de terceiros, utilizamos as tecnologias assistivas, que são recursos que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pacientes com alguma limitação e, consequentemente, promover vida independente e inclusão social.

Dentre os profissionais habilitados para prescrever essa tecnologia, está o Terapeuta Ocupacional.  Normalmente o terapeuta ocupacional é o coordenador de um processo de prescrição de tecnologia assistiva.  Em alguns casos, este poderá fazer uma prescrição isoladamente, mas em outros, funcionará como o coordenador da equipe envolvida no caso.

Para a realização dessa prescrição, é necessário passar por algumas etapas. O primeiro passo é a avaliação direcionada às necessidades da criança ou adolescente, seu estilo de vida e seus interesses gerais. Em seguida, observar o paciente, analisar o problema, selecionar o dispositivo assistivo, realizar a adaptação e o treino desse dispositivo e fazer o acompanhamento. É importante não considerar apenas a limitação; é preciso considerar a opinião do paciente sobre o dispositivo, o impacto e a adequação ao mesmo.

É interessante entender que as tecnologias assistivas podem ser utilizadas tanto para adaptar o ambiente quanto para promover a função. Vamos tomar como exemplo o atendimento realizado na Casa Durval Paiva com as crianças A.B.C.L. e F.M.S.A., portadores de Epidermólise Bolhosa, cuja doença lhes impede de realizar algumas atividades da vida diária, em virtude da limitação dos membros superiores. O paciente A.B.C.L. apresenta maior dificuldade em escovar os dentes, pentear o cabelo e alimentar-se, por ter os movimentos das mãos limitados. Dessa forma, foi confeccionado um dispositivo com EVA (emborrachado) para substituir a função do “pegar”, facilitando assim seu desempenho ocupacional. Já para o paciente F.M.S.A. o dispositivo foi confeccionado para evitar que sua mão entrasse no processo de encurtamento e contraturas. Então, nesse caso, foi prescrita uma órtese de posicionamento total. Órtese é todo dispositivo aplicado externamente ao corpo cuja função é contribuir para ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover um dia a dia independente e inclusivo.

Existem vários tipos de tecnologias assistivas, sejam elas de baixo custo ou alto custo. Isso vai depender do grau de complexidade que a tecnologia for fabricada, que pode variar entre alta tecnologia (cadeira de rodas motorizadas, computadores adaptados), média tecnologia (cadeiras de rodas de propulsão manual, pulseira de peso) e baixa tecnologia (engrossador de talher, cintos de velcro).

As tecnologias assistivas estão presentes no nosso dia a dia. Bengalas, óculos, cadeira de rodas, órteses, muletas, talheres com cabos mais grossos, entre tantas outras coisas que facilitam o cotidiano. Para pessoas sem limitação, a tecnologia torna as ações mais fáceis. Para pessoas com limitações, a tecnologia torna as ações possíveis.

Tecnologia assistiva não salva vidas, nem reduz morbidade, simplesmente permite as pessoas com limitações e seus familiares terem uma vida mais satisfatória e com mais possibilidades. Afinal, autonomia para viver é sinônimo de liberdade. E liberdade é um bem que ninguém despreza.

Por Alessandra Ferreira Moreira

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