Experiências de mães de crianças com câncer

São muitas as repercussões que envolvem o câncer e de uma de forma significativa tanto na vida da pessoa que adoece quanto no contexto familiar, que participa e acompanha todo o processo do diagnóstico, perpassando pelo tratamento até a recuperação, juntamente a uma equipe multiprofissional de saúde, oferecendo o suporte necessário ao paciente. A cada ano, o número de casos novos de câncer aumenta de forma desproporcional, sendo, atualmente, a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes e os impactos causados pelo câncer, abrangem muitos aspectos da vida, desde os físicos, psicossociais e até financeiros, envolvendo o paciente e sua família.

De acordo com os casos que recebemos na Casa de Apoio Durval Paiva, geralmente, a mãe é quem acompanha o processo de hospitalização da criança e, consequentemente, é quem passa por mudanças na vida, que se apresenta como o eixo da estrutura familiar. A administração da casa fica por sua conta, assim como, a educação dos filhos.

Segundo relatos de J.C, mãe da paciente E.K.C, assim que soube do diagnóstico da filha, teve o primeiro impacto, em seguida vieram as inúmeras mudanças: precisou renunciar ao trabalho para acompanhar o processo de tratamento da filha, abdicou de seu convívio social, de suas atividades de rotina, da sua vaidade. Ela descreve ainda que esse momento veio acompanhado de sentimentos incontroláveis, muitos medos, incertezas, uma ansiedade que incomoda e reflete em todos os outros contextos, com os outros filhos como também no seu relacionamento conjugal. Por vezes, J.C. se vê sozinha, pois durante este período, existe o abandono do companheiro. Essa vivência é compartilhada durante o acompanhamento terapêutico ocupacional, mediante uma atuação profissional que transcende o exercício profissional, por meio de abordagens para uma condução significativa e sensível no cuidado. J.C menciona a importância do acolhimento e da competência dos profissionais envolvidos, tanto no hospital quanto na Casa de Apoio.

Estes fatores somados ao cuidado a mãe promovem a construção de relações terapêuticas que amenizam tantas mudanças, proporcionando o conforto necessário em diversas fases do tratamento. Na literatura, é evidenciado que a experiência de tornar-se mãe de uma criança com câncer envolve muitos significados quanto ao desempenho do papel materno durante o processo de adoecimento, já que precisa se desdobrar como acompanhante do filho e ainda ser mãe, o que acarreta sentimentos desconcertantes, expectativas diante do que pode acontecer frente à doença. Essas questões precisam ser consideradas diante da prática clínica, cabendo à equipe que compõe à assistência ressignificar as diversas expressões humanas e buscar aliar o tratamento convencional, favorecendo os cuidados com a saúde integral e holística.

No setor de terapia ocupacional, J.C relata que as vezes que se sentiu amparada e acolhida, teve mais coragem para lidar com o processo de adoecimento do filho e preparada para elaborar táticas de enfrentamento. Partilha ainda que tem sido fundamental ter disponível o serviço de terapia ocupacional onde tem o apoio, uma escuta ativa, através da comunicação terapêutica, por se tratar de lugar onde é possível abrir espaço para a expressão das emoções humanas, e estabelecimento de vínculos, pois se sente cuidada diante do impacto físico e emocional que vive durante a fase de tratamento.

Lady Kelly Farias da Silva

Terapeuta Ocupacional da Casa Durval Paiva

Crefito 14295-TO

 

Por Lady Kelly Farias da Silva

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