Eu quero saber: porque eu e minha amiguinha não vamos mais nos ver?

“O mundo das crianças não é tão risonho como se pensa, há medos e muitas experiências de perdas.” (Rubem Alves).

Segundo a psicóloga e pesquisadora Maria Julia Kovács, as perdas e a morte fazem parte do desenvolvimento humano desde o nascimento até o fim da vida. Kovács ainda acrescenta que o luto é definido com processo de elaboração de perdas vividas e faz parte da existência humana desde o seu início, ou seja, em algum momento, iremos experienciar algum tipo de perda na vida.

A morte, os fins dos ciclos e perdas são certezas que temos na vida, contudo, porquê tentamos driblar a todo custo e em especial esconder das crianças esses fatos?

Certeza é, que assim como os adultos, as crianças têm sentimentos e sentem a perda de algo ou alguém (seja de um brinquedo, bichinho de estimação, mudança de escola ou cidade ou a morte de um parente ou amigo). Elas precisam ser ouvidas e ter suas emoções validadas e acolhidas.

Esconder, ocultar e afastar da criança que alguém morreu, não ajudará em nada, pois em algum momento ela irá saber ou fantasiar sobre esse “sumiço” repentino, irá perceber que algo está diferente, ainda correndo o risco de ser descoberto de uma maneira pouco cuidadosa e cautelosa.

Na comunicação sobre a morte com uma criança, alguns pontos devem ser levados em consideração para uma comunicação adequada e acolhedora: (que será melhor exposto nesse pequeno diálogo entre uma criança e sua mãe, sobre seu coleguinha de tratamento que morreu e ela não irá mais ver).

Bela (8 anos) estava no hospital, passando por um tratamento oncológico, há alguns dias não via sua amiga de leito. Percebendo as inquietações dos adultos e a fuga do assunto quando ela indagava sobre a coleguinha, saltou com a seguinte pergunta: – Eu quero, quero muito saber porque eu e minha amiguinha não vamos mais nos ver? A mãe de Bela percebeu que nada adiantava esconder, pois Bela já sabia que algo estava acontecendo.

A mãe retrucou com uma pergunta: – O que você acha que aconteceu? Foi então que Bela, respondeu: – Bem, minha amiguinha morreu. A mãe com um olhar triste afirmou: – Isso mesmo minha Bela, sua amiguinha nos deixou.  E o que você sabe sobre a morte? Ao que Bela respondeu: – Sei que é algo que leva as pessoas para sempre, deixando a gente menos contente. A mãe então acrescentou:  – Isso mesmo minha Bela, ela foi e não vai voltar, mas dela ainda podemos lembrar. Realmente ficamos menos contentes, mas podemos procurar algo para alegrar a gente. Lembra do dia que fomos de montanha russa? Às vezes você vai estar menos contente e mamãe vai te acolher, encontrando coisas e lembranças da sua amiguinha, pois o amor nunca vai morrer. – Obrigada mamãe por me dizer, que realmente eu e ela não vamos mais nos ver, achei que ela tinha viajado, mas agora entendo que meu pensamento estava errado. Com a sua ajuda, a emoção que era cinza, clareou e eu percebo que ainda existe amor, que saudade vai fazer parte, mas isso foi porquê da minha vida ela fez parte!

Percebam que no diálogo entre Bela e sua mãe, algumas coisas foram consideradas: ela pergunta o que a filha sabe a respeito, respeita a idade e compreensão cognitiva, valida as emoções que não são agradáveis, alivia as angustias das dúvidas, acolhe, fica disponível para um outro momento, explica que a pessoa não volta, mas que as lembranças e o que foi vivido não podem ser levados e que existem meios de aliviar a saudade e que cada um terá o seu luto.

É importante ressaltar que usar frases como: “virou estrelinha”, “viajou”, “dormiu”, podem dar ideias fantasiosas, dificultando e confundindo ainda mais a elaboração e compreensão da criança frente ao que de fato é a morte, utilizar a metáforas dos ciclos das plantas é uma boa alternativa e recomendada por muitos autores.

Além da boa comunicação, de preferência que a mesma seja feita pela pessoa de confiança da criança, algumas vezes um profissional qualificado precisará dar apoio. Diante da realidade, a Casa Durval Paiva, oferta os serviços de psicoterapia individual e grupal com as crianças e familiares.

Por Adelaide Alaís Alves Psicóloga - Casa Durval Paiva CRP 17/4085

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