Síndrome Epidermólise Bolhosa: A importância do cuidado da odontologia

A síndrome epidermólise bolhosa congênita (EB) é uma doença rara, de origem genética, que afeta principalmente a pele e as mucosas em área de fricção e pressão. Ela é caracterizada pela formação de bolhas e úlceras. Existem vários tipos de EB, dentre elas, a distrófica recessiva, que causa envolvimento bucal mais severo, incluindo microstomia (diâmetro reduzido da boca), anquiloglossia (língua presa) e redução da profundidade do vestíbulo bucal (porção mais externa e menor da boca), devido aos ciclos repetidos de cicatrização.

É importante ressaltar o atendimento preventivo odontológico, em crianças com epidermólise bolhosa, deve ser realizado o mais cedo possível, de preferência, ainda na fase bebê, para manter a integridade da dentição natural, evitando o tratamento odontológico invasivo, minimizando a formação de bolhas.

É primordial que o dentista conheça a doença, antes da intervenção odontológica, devido a sua característica de formação de bolhas e vesículas, após um trauma mínimo ou fricção. Na EB distrófica dominante, as alterações bucais são mais leves, como algum eritema (vermelhidão) e sensibilidade na gengiva. Já na EB distrófica recessiva, os problemas bucais são mais graves, ocorrendo a formação de bolhas, por algum alimento mais áspero.

Os ciclos repetidos de cicatrização causam, também, um estreitamento grave do esôfago, levando a uma alimentação pastosa. Algumas anormalidades dentárias estão associadas aos diferentes tipos de EB, como anodontia (ausência de dentes), dentes neonatais (nascem ao nascimento), atraso na erupção dos dentes e lesões graves de cárie dental, devido a dieta pastosa, geralmente cariogênica.

O comprimento da maxila e mandíbula são menores nos portadores de EB recessiva distrófica, contribuindo para o apinhamento dental, essa característica pode ser devido a redução da função mastigatória, mediante a dieta pastosa e as deformidades causadas pela cicatrização na região bucofacial. O tratamento odontológico requer um cuidado maior, com a mínima manipulação e lubrificação dos instrumentos. Procedimentos atraumáticos são preconizados, assim como, a ênfase na prevenção, para reduzir a necessidade dos tratamentos restauradores.

A manutenção da dentição permite uma mastigação mais eficiente e melhor nutrição. Os pais devem ser orientados, sobre as dificuldades da intervenção odontológica nesses pacientes. Devido a sensibilidade da mucosa e consequente dificuldade de realizar higiene bucal diária, eles têm alto índice de placa bacteriana, lesões cariosas extensas e restos radiculares. Nos procedimentos odontológicos, deve-se apoiar as mãos e os instrumentos nos dentes para evitar traumatizar a mucosa, estes lubrificados com anestésicos tópicos em gel, para evitar dor na região que está sendo manipulada.

Devem ser realizadas orientações com relação ao uso de escovas especiais, flúor com verniz, flúor caseiro sem corante ou álcool, uso de clorexidina oral a 0,12%, para os pacientes com higiene bucal deficiente e restrição de açúcares da dieta, além de visitas regulares ao dentista.

O serviço odontológico da Casa Durval Paiva, além dos pacientes oncológicos, atende também os pacientes hematológicos com epidermólise bolhosa, oferecendo um tratamento educativo e preventivo, com visitas mensais ao dentista, para reduzir a necessidade de tratamento restaurador. Oferece, também, o atendimento com laserterapia de baixa potência, nos pacientes com bolhas extensas em mucosa oral, causando um maior conforto, controle da dor e cicatrização das bolhas na mucosa oral.

Como já foi observado, a realização de procedimentos odontológicos em pacientes com EB distrófica recessiva é muito difícil. Dessa forma, é de suma importância a motivação constante da criança e seu núcleo familiar, para a realização dos procedimentos preventivos, que promovam a saúde bucal e preservem a dentição.

Por Simone Norat Campos - Dentista Casa Durval Paiva - CRO/RN 1784

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