O grupo é um tipo de intervenção bastante utilizado na prática psicológica. Através dele, podem ser trabalhados diversos aspectos da realidade do participante mediante o compartilhar das informações e da universalidade dos conflitos. O indivíduo se insere em um grupo por diversos fatores, mas as práticas atuais de terapia em grupo privilegiam os grupos homogêneos, ou seja, pessoas que tenham alguma identificação entre si. Na temática do câncer, os grupos se formam de acordo com as necessidades em comum dos indivíduos que de alguma maneira se envolvem com a vivência da doença. E isto engloba não só o paciente oncológico, mas também a família, que está diretamente ligada a todas as etapas do processo de descoberta, tratamento e cura.
Após passar pelas fases iniciais de contato e integração, os participantes do grupo são capazes de experimentar trocas que vão ser de suma importância para a vivência da fase dolorosa de descoberta e enfrentamento do câncer. Compartilhar conhecimentos também é uma outra forma de tentar amenizar o sofrimento e ao mesmo tempo promover um encontro com a realidade imposta. Quando a mãe de uma criança com câncer se depara com outra mãe que teve uma estratégia positiva diferente de lidar com a doença do filho, é confortante, pois agora ela sabe que tem alternativa que já foi usada, deu certo e pode ser útil para ela também.
O psicólogo facilitador desse processo grupal precisa saber articular as experiências e tirar sempre algo de produtivo do grupo. Encarar a realidade muitas vezes não significa sofrimento, e sim uma oportunidade de saber que cada fase tem a sua importância e que existem sempre formas construtivas de enfrentá-la. Lidar com tudo aquilo que é doloroso no momento acaba se tornando menos denso quando desabafamos e damos a oportunidade de compartilhar nossos medos e angústias, e melhor ainda por descobrir que existem outras pessoas com vivências semelhantes e enfrentamentos distintos para a mesma realidade.
O grupo infantil também abre espaço para discussão e construção, só que as crianças se expressam de forma lúdica, ou seja, através de jogos, brincadeiras, desenho, e cabe ao psicólogo saber extrair e explorar todas as nuances que foram despertadas no grupo.
Assim sendo, é relevante que cada profissional esteja atento quando determinada demanda deve ser trabalhada de forma individual ou quando ela seria mais rica se exposta para o grupo e vivenciada nele. Um grupo, se bem conduzido, é capaz de enriquecer e fortalecer laços, além de contribuir positivamente para discussão e análise de saberes e vivências que auxiliam a qualquer que seja a dificuldade ou a necessidade de um grupo.
Sendo o câncer uma doença que traz consigo uma forte carga emocional, uma vez que é ainda muito associada à morte e sofrimento, é interessante que sempre os profissionais da área estejam em busca de formas de atuação cada vez mais eficientes, que possam levar a utilização de formas adaptativas para lidar com a patologia orgânica, visando uma melhora na qualidade de vida do indivíduo na vigência da doença.
O trabalho realizado com os grupos na Casa de Apoio a Criança com Câncer Durval Paiva tenta abarcar a infinidade de emoções que são trazidas a partir do ingresso dos indivíduos no ambiente da Casa. Pais, crianças, adolescentes, enlutados, voluntários, colaboradores, todos precisam de um espaço terapêutico que possa propiciar momentos de resgate e discussão, trabalhando com tudo aquilo que aparece na experiência do dia-a-dia da instituição.
Escrito por Juliana dos Santos Fernandes Barbalho.