A importância do cirurgião dentista na equipe multidisciplinar e interdisciplinar no contexto hospitalar é de caráter educativo e preventivo, visando um atendimento integral aos pacientes. A atuação do cirurgião-dentista em ambiente hospitalar ainda é pouco difundida, mas não é recente. A odontologia hospitalar ao contrário do que muitos pensam, não é exclusividade do cirurgião buco-maxilo-facial e sim também do cirurgião dentista de formação clínica, uma vez que os procedimentos realizados não dizem respeito somente às intervenções cirúrgicas.
Segundo a especialista Camargo, “a odontologia hospitalar pode ser definida como uma prática que visa os cuidados das alterações bucais que exigem procedimentos de equipes multidisciplinares de alta complexidade aos pacientes.” De acordo com os artigos 18,19 e 20 do Código de ética Odontológica, compete ao cirurgião dentista internar e assistir pacientes em hospitais públicos e privados, com e sem caráter filantrópico, respeitar as normas das instituições e as normas do Conselho Federal de Odontologia. São várias as áreas de atuação de serviços odontológicos no ambiente hospitalar, tais como: pacientes especiais, estomatologia, patologia bucal, laserterapia, dor orofacial e disfunções da ATM (Articulação Temporomandibular), pacientes oncológicos e UTIs.
Em se tratando de criança com câncer hospitalizada é importante a abordagem pelo dentista tão logo esta se interne, para programar seu protocolo de atendimento odontológico junto a equipe da oncologia pediátrica. A quimioterapia e radioterapia de cabeça e pescoço causam uma série de alterações na boca, afetando a mucosa. A quimioterapia é a terapêutica mais utilizada em crianças com câncer e não é seletiva, ou seja, destrói tanto as células doentes, como também as sadias, sendo assim, os pacientes baixam sua imunidade e ficam susceptíveis a várias infecções, que podem ser oportunistas, virais e bacterianas.
As células da mucosa oral, por estarem sempre em renovação celular, são os primeiros sítios a serem afetados. A mucosite, inflamação que ocorre na mucosa oral e se estende por toda a mucosa gástrica, é o efeito colateral mais comum da quimioterapia e dependendo do seu grau, causa febre, muita dor e impede o paciente de se alimentar. Daí a importância do dentista junto a equipe hospitalar, minimizando e prevenindo os efeitos advindos da terapêutica oncológica, proporcionando ao paciente menor tempo de internação, evitando atraso em seu protocolo de tratamento, reduzindo custo hospitalar e diminuindo o risco de mortalidade ou morbidade.
Dentro da filosofia de atendimento integral ao paciente, o serviço odontológico da Casa Durval Paiva realiza atendimentos hospitalares aos pacientes internados na enfermaria pediátrica da Policlinica, da Liga Norte riograndense de combate ao câncer, aos pacientes submetidos ao transplante de medula óssea. São atendimentos realizados leito a leito, demonstrando uma escovação adequada, examinando algum foco de infecção e, caso necessário, encaminhando para o tratamento curativo pré-quimioterapia, para que o paciente não corra o risco de um abscesso dentário no momento em que esteja com a sua imunidade baixa, o que poderia acarretar uma internação e até risco de vida.
O serviço odontológico também dá suporte às crianças em UTIs, pois, a higiene bucal é essencial para evitar a proliferação de bactérias e fungos, que, além de prejudicar a saúde bucal e bem-estar do paciente, pode causar outras infecções e doenças sistêmicas. O serviço também se preocupa em higienizar a boca dos pacientes, que na maioria, pelo próprio estado crítico, não têm condições de escovar e apresentam uma saúde oral debilitada.
Diante dos atendimentos pré, trans e pós-quimioterapia aos pacientes hospitalizados tem-se observado uma melhora das condições orais, uma redução das mucosites, menor risco de infecções, maior adesão à higiene bucal por parte dos pacientes e, consequentemente, uma melhora na qualidade de vida dos mesmos.
Escrito por Simone Norat Campos – Dentista – Casa Durval Paiva – CRO/RN 1784.