Durante muito tempo o câncer infantil foi considerado como uma doença aguda e de evolução fatal, em virtude disso, a grande preocupação da equipe médica era a sobrevivência dos pacientes. Hoje esta maneira de pensar mudou e o foco passou a ser também a qualidade de vida que o paciente terá durante e após o seu tratamento.
Atualmente, a oncologia pediátrica pode ser reconhecida como uma enfermidade crônica e com perspectiva de cura em grande número de casos, com isso, a fisioterapia oncológica vem conquistando cada vez mais espaço, tendo em vista a sua importante ação na preservação, manutenção, desenvolvimento e restauração da integridade física dos pacientes.
O paciente com câncer é um paciente diferenciado, pois além de estar debilitado pela doença em si, os tratamentos oncológicos adotados podem ocasionar sequelas temporárias ou definitivas, onde é papel da fisioterapia atuar de forma a minimizá-las ou erradicá-las.
Muitos profissionais da área questionam se existem diferenças em tratar um paciente oncológico dos demais. Na verdade não há diferença no tratamento em si, pois as técnicas e recursos utilizados são os mesmos, o que muda é a percepção do estado geral do paciente, visto que, um paciente oncológico apresenta particularidades inerentes ao tipo de tratamento ao qual é submetido, devendo então o fisioterapeuta ter bom senso na forma como seleciona e utiliza essas técnicas e recursos.
Exemplos claros desses fatores condicionantes do tratamento são: o estado emocional da criança, os efeitos da cirurgia, quimio e/ou radioterapia (que poderão deixar sequelas sensitivas, motoras, vasculares ou respiratórias importantes, além de ocasionar edemas, disfunções ventilatórias, fibrose, levando à restrição de movimentos etc.), a presença de metástases e a dor oncológica. Todas essas consequências são minimizadas com a intervenção precoce de um programa fisioterápico específico.
Além disso, o atendimento ao paciente pediátrico apresenta características próprias quanto ao seu tamanho, maturidade física e intelectual. Essas peculiaridades podem criar dificuldades terapêuticas, requerendo muitas vezes adaptações das técnicas para atingir os objetivos propostos.
A fisioterapia se faz presente nas diferentes fases de intervenção do tratamento oncológico: no pré-operatório seu principal objetivo é o preparo para o procedimento cirúrgico e redução de complicações. Durante o período de internação, a fisioterapia atua prevenindo, minimizando e tratando as complicações respiratórias, motoras e circulatórias provenientes do posicionamento prolongado no leito. Por fim, existe a assistência ambulatorial, que deve ser prestada de forma contínua e enquanto o paciente dela necessitar.
A intervenção fisioterápica deverá ser feita até mesmo nos casos onde o paciente se encontra fora de possibilidade terapêutica de cura, uma vez que atua significativamente no alívio da dor e na manutenção da capacidade física para realização de atividades diárias simples.
Diante do exposto, conclui-se que o sucesso da terapia dependerá do bom senso do profissional e principalmente do seu conhecimento em relação às características e evolução da doença. Além disso, se faz importante compreender que, diferentemente da medicina, a intervenção fisioterápica não pode ser medida pelo índice de sobrevivência ou pelo desaparecimento dos sintomas, mas sim, pelo grau de independência funcional alcançado pelo paciente.
Escrito por Roberta Carvalho da Rocha.