Simone Norat Campos
Dentista da Casa Durval Paiva.
CRO/RN 1784
O paciente que irá submeter-se a um transplante de medula óssea terá que passar por uma equipe multidisciplinar, com o objetivo de oferecer suporte em todas as suas necessidades, incluindo o cuidado com a saúde bucal.
O transplante de medula óssea ou de células tronco hematopoiéticas, consiste na substituição de uma medula doente por uma medula saudável e é um tratamento proposto para doenças que afetam as células do sangue como: leucemias e linfomas, assim como doenças mieloproliferativas, hemoglobinopatias , alguns tumores sólidos e algumas doenças autoimunes.
A odontologia atua em três fases do tratamento, no pré-transplante, durante e após o transplante. No pré-transplante, o objetivo é avaliar o paciente quanto ao risco de infecções que possam vir a complicar a qualidade de vida durante o tratamento. Daí a importância da inserção e participação do dentista na equipe multidisciplinar na fase pré-transplante, atuando na remoção de dentes cariados sem indicação de restauração, dentes envolvidos em periodontite e dentes que podem causar pericoronarite (inflamação que envolve o dente siso), pelo menos duas semanas antes do início da quimioterapia.
Durante o transplante, o paciente precisa do acompanhamento direto da odontologia a fim de identificar e tratar, precocemente, infecções oportunistas ou lesões bucais que surgem em decorrência da baixa imunidade causada pela quimioterapia, ao qual o paciente é submetido. O paciente recebe orientações da necessidade da higiene oral mais rigorosa, com escovas macias e cremes dentais específicos, soluções antimicrobianas, uso do fio dental, permitindo o controle de uma higiene oral adequada.
Durante todo o período de internação, o paciente deve receber a laserterapia, tanto para prevenção, como tratamento da mucosite oral (inflamação da mucosa) e crioterapia (terapia com gelo), em casos específicos. A mucosite oral é uma condição muito dolorosa, que afeta não só a boca, mas também todo o trato gastrointestinal, constituindo uma porta de entrada para microorganismos. Os pacientes que vão se submeter a radioterapia, associada a quimioterapia, tem a probabilidade de ter 75% a 99% de mucosite oral.
No pós-transplante de medula óssea, os pacientes podem desenvolver uma série de complicações bucais, como infecções por fungos, bactérias ou vírus, xerostomia (boca seca) e problemas gengivais como sangramento. Os pacientes que recebem transplante alogênico, podem desenvolver a doença do enxerto contra o hospedeiro, que é a possibilidade da célula do doador (enxerto) reagir contra o organismo do paciente (hospedeiro). Os cuidados da odontologia devem ser oferecidos até que se completem cem dias pós-transplante.
Há evidências científicas de que a remoção dos focos de infecção através de restaurações, extrações de dente com risco de infecção, higiene oral adequada com o uso de clorexidina a 0,12% associado, reduz a incidência de mucosite oral, além de pneumonia aspirativa. O risco de complicação oral cai de 40% para 12%. É preciso que mais dentistas se capacitem para atender esse público que precisa de cuidados.
O serviço odontológico da Casa Durval Paiva, instituição que trata crianças e adolescente com câncer, já acompanhou uma média de quinze pacientes que se submeteram ao transplante de medula óssea, conferindo uma melhor qualidade de vida a estes pacientes, contribuindo para o sucesso do transplante.