Soraya Mendes Guimarães
Assistente Social da Casa Durval Paiva
CRESS/RN 1249
Durante o tratamento do câncer infantil a criança é submetida a vários exames, internações hospitalares prolongadas e diversas modalidades terapêuticas, tais como: quimioterapia, radioterapia e cirurgia que, por vezes, provocam limitações e incapacidades físicas e psicológicas.
As constantes idas ao hospital para internação, assim como para seguimento ambulatorial, expõem a criança a dor e ao sofrimento, e ainda provocam interrupções no seu cotidiano, afastando-as do convívio social e familiar, o que pode interferir na sua capacidade e no desejo de brincar. Brincar é uma necessidade da criança e significa para ela o meio pelo qual se desenvolve em todos os aspectos, sejam eles físicos, emocionais, cognitivos e sociais.
A manutenção das atividades de brincadeiras para as crianças com câncer é reconhecida como importante ferramenta para melhora do enfrentamento positivo em relação à doença e ao tratamento. Geralmente, em consequência da doença, as crianças são privadas de muitas atividades realizadas anteriormente. As brincadeiras ativas fazem parte dessas restrições e, gradualmente, vão sendo extintas do dia a dia, em decorrência da sua fragilidade clínica.
É importante destacar que o câncer e seu tratamento limitam a interação social da criança em seu contexto familiar, o que é fundamental para o seu desenvolvimento. O tratamento contra o câncer infantil atua alterando a rotina e a dinâmica da família, interferindo nas relações e interações entre os familiares e afetando os relacionamentos de diversas formas. Os familiares passam a vivenciar longos períodos de hospitalização, internações frequentes, terapêutica agressiva, interrupção das atividades diárias, desajuste financeiro, angústia, dor, sofrimento, além do medo constante da possibilidade de morte.
Também altera o relacionamento entre os irmãos, que passam a ter menos tempo de convivência e, consequentemente, brincam menos uns com os outros. Além disso, os irmãos saudáveis vivenciam a privação do convívio materno, já que, na maioria das vezes, é a mãe quem passa a acompanhar a rotina de tratamento da criança com câncer.
O profissional que atende a criança deve, juntamente com sua família, buscar estratégias para manter a melhor qualidade de vida possível durante o tratamento, valorizando a necessidade de brincar como fundamental em qualquer fase, tanto de seu desenvolvimento individual quanto no decurso do adoecimento. É preciso lembrar que, além de ser promotor do desenvolvimento infantil, o brincar é uma fonte de prazer, é o momento em que a criança, por alguns instantes, se esquece das dificuldades do adoecimento e do tratamento pelo qual está passando e entra no mundo da fantasia, proporcionando bem estar e melhorando a aceitação do tratamento e dos procedimentos invasivos e dolorosos.
No resgate do brincar, a criança passa a ter contato com novas brincadeiras, diferentes daquelas de antes do adoecimento e aprende novas possibilidades de manter seu processo de desenvolvimento, uma vez que brincar é uma das inúmeras formas de humanizar a assistência e contribui para melhorar a sua qualidade de vida, amenizando as repercussões do adoecimento na esfera psíquica e na física.
Atividades recreativas são muito importantes para criança durante o período de tratamento, pois a distração que esses recursos proporcionam impedem o tédio e, nesses momentos, por meio da interação com outras crianças na mesma condição de adoecimento, ela começa a compreender suas limitações e confere significado a novas brincadeiras, incorporando-as ao seu cotidiano. Outro aspecto relevante é que, ao brincar e interagir com os outros pacientes a criança em tratamento oncológico redescobre o prazer de viver. Com isso, auxiliada pelo brincar, vai aos poucos transformando sua existência e redescobrindo-se.
Brincadeiras que demandam menor esforço físico, como quebra-cabeças, videogame, jogos eletrônicos, pintura e desenho são mais bem integradas à rotina. A redescoberta do prazer de brincar, além de proporcionar benefícios para o seu desenvolvimento biopsicossocial, também o faz para seus familiares que, ao perceberem a criança reagindo e brincando, sentem-se igualmente estimulados a continuar na luta contra o câncer.
Como forma de assegurar o respeito ao brincar na infância como um direito fundamental previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, a Casa Durval Paiva mantém profissionais específicos para realizar atividades lúdicas com as crianças, como política de acolhimento e apoio ao tratamento oncológico, além de contar com apoio de grupos de voluntários que colaboram para esse fim.
Assim sendo, através das atividades recreativas realizadas cotidianamente na sala de grupo, no espaço de lazer e festividades específicas, de acordo com as datas comemorativas, são proporcionadas ocasiões de integração social com aqueles que estão em situação similar, familiares, profissionais e voluntários, ações que muito contribuem para que a criança possa enfrentar todas as etapas do tratamento de uma forma mais humanizada. Logo, a Casa de Apoio também é vista como um lugar de brincadeira, alegria, convivência e aprendizado.