Lianna Karinne Germano Chaves Lopes
Farmacêutica – Casa Durval Paiva
Muitas pessoas não resistem a tentação de receitar um remédio – é remédio natural, um comprimido para dor, outro para azia, o medicamento que a vizinha tomou quando ficou de cama com gripe ou ainda aquele ‘famoso’, que segundo o dito popular “se não fizer bem, mal não faz”. Essa prática comum, não só entre os brasileiros, podemos chamar de automedicação e está cercada de sérios riscos. Riscos estes que não são colocados de forma clara às pessoas. Estas, muitas vezes, se deixam levar por anúncios maciços e desenfreados que até inserem a recomendação “persistindo os sintomas procure o seu médico”, como que isentando de qualquer responsabilidade.
Sabe-se que a realidade da saúde no Brasil é precária e hoje até aqueles que possuem um plano de saúde têm dificuldades para marcar consultas podendo até passar meses; a dificuldade e o custo de se conseguir acesso ao atendimento médico ou odontológico leva o paciente ao caminho mais curto que é a farmácia mais perto para comprar o medicamento que alguém orientou na dosagem que acha que é a mais indicada ou ainda tenta não só a orientação mas também se consultar com o farmacêutico ou até mesmo o balconista.
Há uma frase de Paracelso, famoso cientista suíço, que ajuda a clarificar esse assunto: “não há nada na natureza que não seja venenoso. A diferença entre remédio e veneno esta na dose de prescrição.”, portanto, a mesma substância que, usada nas doses e nos momentos certos, é remédio se usada inadequadamente, pode ser veneno.
A automedicação pode mascarar um diagnóstico na fase inicial da doença, quando o paciente costuma tomar o remédio por conta própria para aliviar alguns sintomas iniciais e só vai se dar conta da situação quando o quadro clínico já esta mais avançado. Um exemplo são as neoplasias gástricas e intestinais que podem ser diagnosticadas tarde, pela melhora de sintomas com medicamentos que agem no tubo digestivo. Sabemos que para a cura do câncer, quanto mais cedo for diagnosticado, melhor.
Essa prática de se automedicar pode, inclusive atrapalhar a quimioterapia, devido a um problema denominado como interação medicamentosa. Evento clínico no qual os efeitos de um medicamento são alterados pela presença de outro medicamento, alimento, bebidas ou drogas capaz de anular os efeitos de um remédio ou aumentar a toxicidade de algum dos medicamentos.
No acompanhamento do tratamento dos pacientes da Casa Durval Paiva se faz necessário o trabalho de orientação não só dos benefícios das medicações, mas um alerta quanto as consequências da administração incorreta. Lidar com pacientes com câncer requer um cuidado, um olhar a mais. Toda ou qualquer medicação, até prescrita por outro médico, deve ser informada ao oncologista pediatra.
Nada justifica a falta de cuidados com a saúde. Por mais insignificante que pareça, nenhum medicamento deve ser ingerido sem prescrição ou orientação médica. Não se deve acreditar em “receitas de amigos”, por mais que queiram ajudar, são leigos no assunto e podem comprometer a saúde do paciente, lembrando ainda que o mesmo medicamento pode produzir efeitos diferentes de organismo para organismo.
Há medicamentos que podem ser comprados sem a receita médica, porém é sempre recomendável informar-se com o farmacêutico quanto ao produto e seus efeitos colaterais, todo cuidado é pouco, principalmente, quando tratamos de crianças.