Gostaria hoje de contar, para você, um pouco do que aconteceu comigo. Sou uma mulher de trinta anos que tinha uma vida normal, casada há quase quinze anos, com três filhos, um de treze anos, outro de onze e o mais novo de sete anos. Meu casamento não é um dos melhores, mas também não é dos piores, simplesmente é normal. Tínhamos uma vida tranquila, com altos e baixos, como qualquer família, até que meu filho, João, de onze anos, aparentemente saudável, começou a ficar doente de uma hora para outra, sem coragem, desatento na escola, sem vontade de jogar futebol, que tanto gostava, com febre, cansado, com perda de peso e apetite.
Fomos ao médico da nossa cidade, que pediu uns exames e disse que meu filho estava com anemia, passou uns remédios, mas ele não melhorava e então resolveu encaminhar para a capital. Foram feitos novos exames e com o resultado, veio o diagnóstico da Leucemia. O que passou na minha cabeça na hora não sei dizer ao certo, simplesmente perdi o chão. Ouvi da médica que seu filho tem câncer é um susto tão grande que só quem ouviu consegue sentir, mas nunca descrever. Acho que a primeira coisa que veio na minha cabeça foi porque ele e não eu? Porque para a mãe, a dor deve ser para ela e não para o filho frágil, indefeso e criança, com uma doença tão grave, que pode levá-lo cedo.
Esse medo, o sentimento de perda, de enfrentar o desconhecido é assustador, eu não sabia quase nada dessa doença e ele sempre foi saudável. Depois desse primeiro susto, veio a realidade de que preciso ser forte e ajudar meu filho a enfrentar esse momento. Mas como fazer isso, se também sou frágil e não sei como agir? Nesse momento, o apoio do pessoal do hospital me pareceu estranho, me disseram que seria encaminhada para uma casa de apoio. Mas o que iria fazer lá? Ao chegar à Casa de Apoio Durval Paiva estava assustada, não conhecia ninguém, a única coisa que sabia era que ali poderia ficar com meu filho quando não estivesse no hospital e não pudesse voltar para casa.
A forma como fui recebida me deu a certeza de que ali encontraria o apoio que estava precisando. Aos poucos fui percebendo, que essas pessoas além de profissionais, eram merecedoras de confiança, com quem poderia contar e comecei a me sentir mais segura. Os momentos são difíceis. Com o tratamento, o comportamento de João começou a mudar, ele que sempre foi um menino tão bom, talvez dos meus três filhos, fosse o mais gentil, o que mais me fazia companhia e agora está agressivo, bruto comigo, não o reconheço mais, quando digo alguma coisa, ele sempre se aborrece. Tem dias que acho que ele está melhor, mas tem dias que fico tão desesperada que me dá vontade de largar tudo e voltar para minha casa, minha vidinha tranquila como era antes. Mas com a ajuda dos profissionais da Casa volto ao meu senso e percebo que tudo faz parte do tratamento. Meu filho vai ter momentos fáceis e difíceis. Se lutarmos juntos e se tantas outras crianças e adolescentes conseguiram ficar curados, nós também vamos conseguir.
Hoje posso dizer que na Casa encontrei segurança. Pessoas que começaram a fazer parte da minha vida e me mostram todos os dias, que eu, meu filho e minha família estamos vivendo um momento difícil, mas que se juntarmos nossas forças vamos conseguir vencê-lo e voltaremos para casa. Sempre deixarei aqui, na nossa Durval Paiva, uma família que não foi feita por sangue, mas que foi construída por laços de descoberta, apoio, esperança, superação e de vida
Soraya Mendes Guimarães
Assistente Social – Casa Durval Paiva
CRESS/RN 1249