ELABORAÇÃO DE UMA EXPERIÊNCIA DE VIDA – 2011

ELABORAÇÃO DE UMA EXPERIÊNCIA DE VIDA – 2011

ELABORAÇÃO DE UMA EXPERIÊNCIA DE VIDA – 2011

 

A experiência é algo muito interessante. É servindo-nos dela que aprendemos grande parte daquilo que sabemos; por ela orientamos, muitas vezes, os nossos passos; com ela evitamos a repetição de dissabores e procuramos aquilo que já sabemos ser bom. Esse conhecimento poderia servir para que a nossa vida fosse muito mais previsível e controlável mais cômoda e segura, livre de problemas.

Porém, a natureza possui aspectos desconcertantes que têm o condão de permitir que, apesar de existir a experiência, a nossa vida seja em cada um dos seus momentos uma aventura sem destino previsível. Um deles é que o contexto que adquirimos numa fase da nossa vida não nos serve quando chegamos à fase seguinte. Apesar dos registros que vamos adquirindo, chegamos, a cada uma das nossas épocas, inexperientes e inseguros como da primeira vez.

A vida, na sua magnífica diversidade, vai-nos oferecendo constantemente novas situações, para as quais nunca estamos verdadeiramente preparados. Algumas são duras: um fracasso grande, a morte de alguém que nos faz falta, uma doença que grave, como é o caso do diagnóstico do câncer na família.

Através da Arteterapia, observamos que as crianças e adolescentes que estão em tratamento do câncer na Casa Durval Paiva expõem seus sentimentos, relatam suas dores, seus medos, mas conseguem entender que não há motivos para mergulhar em tristezas, em angústias, e na incerteza que a doença traz. Ao contrário, o fato de estar vivo e em contato com os colegas e com a família, retomando sua rotina de escola e brincadeiras é algo muito celebrado, e tudo passa a ter outro sentido. Para algumas crianças, realizar atividades laborais de estímulo a coordenação motora como recortar e colar é motivo de grande satisfação, enquanto constroem um painel, por exemplo, pode-se fazer uma relação com o seu próprio painel, seu cenário interno, através do uso de atividades estruturantes é possibilitado a essa criança, que ela reestruture, reorganize o seu ‘eu’.

Dentro das Oficinas Terapêuticas evocamos os aspectos emocionais das crianças e adolescentes com Câncer e Doenças Hematológicas Crônicas, observando o impacto das relações inter e intrapessoais na sua vida. Trabalhando cada fase desde o tratamento inicial da doença, até o retorno para casa e a retomada do cotidiano.

A Arteterapia traduz-se como uma importante proposta de apoio no tratamento do câncer, utilizando a Arte como forma de expressão de sentimentos, emoções e potenciais do ser humano. Reforça também o apoio aos pacientes fora de tratamento, através da expressão de seus medos de uma segunda neoplasia, raivas e angústias ainda não elaboradas. Revê o câncer como um processo de transformação do ser humano; uma oportunidade de repensar e assumir a responsabilidade sobre a própria vida.

No jogo da vida subimos de nível, saltamos do material para o espiritual. Varia o grau de dificuldade dos envolvidos, mudam os adversários e o ambiente – como nos jogos eletrônicos. Não somos poupados a sofrimentos, mas nos é dada à possibilidade de reagir e continuar a avançar. Têm-se saudade do que ficou atrás, também nos é permitido sonhar com o que está adiante. Se conservarmos o sabor de derrotas que tivemos, também planeamos a vitória que se segue.

Na vida, as derrotas deixam marcas, as feridas fazem mesmo doer, muitas vezes não recuperamos aquilo que perdemos. Estamos ancorados à realidade e, por isso, para nos divertirmos, para nos sentirmos como aventureiros no meio de tudo isto, temos necessidade de coragem. E de não calarmos aquilo que dentro de nós nos chama a um sonho, a tecer planos e projetos de vida, sem deixar que o diagnóstico e o tratamento da doença interrompam tudo isso.

Escrito por Anna Karenina.