Famílias enlutadas: o acompanhamento após a morte dos filhos

Famílias enlutadas: o acompanhamento após a morte dos filhos

Famílias enlutadas: o acompanhamento após a morte dos filhos

Keillha Israely

Assistente Social – Casa Durval Paiva

CRESS/RN 3592

A luta contra o câncer é árdua e repleta de altos e baixos. Desde o diagnóstico, o medo da perda é constante e acompanha as famílias durante todo o processo de tratamento. No entanto, é válido destacarmos a forma como muitas mães e pais encaram tal vivência, cada um com sua singularidade.

Quando recebem a confirmação do câncer, as famílias são encaminhadas pelo hospital para terem o suporte da Casa Durval Paiva e, ao chegarem, o serviço social é o setor responsável pelo acolhimento inicial e cadastro. Trata-se de um momento ímpar, pois lidamos com o medo, a angústia e as inseguranças dessas famílias e, assim, temos a missão de acolher cada demanda. Junto com a equipe multidisciplinar, atuamos e entendemos o paciente e a família em sua totalidade.

Durante o acompanhamento, vemos de perto a mudança vivenciada por cada família: a mãe que precisou deixar o emprego e os outros filhos para se dedicar ao primogênito doente; a mãe tranquila, que deixou a vida pacata do campo para cuidar do filho caçula; aquela mãe ‘leoa’ que deixou os três filhos mais velhos para se dedicar ao cuidado da única filha. Do mesmo modo, os pais que se dedicam a esse cuidado, como o pai que deixou de trabalhar e saiu do estado de origem para acompanhar o filho durante o tratamento, deixando aos cuidados da mãe os outros três filhos. Enfim, são mães e pais que temos a oportunidade de ver o amadurecimento e a força de cada um para enfrentar a luta contra o câncer.

No entanto, no decorrer desse acompanhamento, também vivenciamos com essas famílias o enfrentamento do estágio final da doença, a morte e o luto, que para alguns representa o final da caminhada, a derrota para o câncer, e que, para outros, é apenas o fim do sofrimento e das dores, por mais difícil que isso seja. Ademais, falar sobre morte não é fácil, pois mesmo sabendo que esse é o fim de todos nós, nem sempre estamos preparados para vivenciá-la, principalmente quando se trata de uma pessoa que tanto amamos.

A morte de um paciente é muito sofrida para sua família, e também para nós enquanto profissionais (que os acompanhamos desde o início e chegada à instituição), mas quando ela chega, como atuamos para dar suporte aos familiares? Quando vivenciamos a morte das crianças e adolescentes por nós acompanhados, é um momento de muita tristeza, mas também de desafio, pois precisamos calar, momentaneamente, o que estamos sentindo para oferecermos o suporte e assim darmos a orientação e os encaminhamentos que a família necessita. Ver de perto o sofrimento das mães e dos pais no momento da partida é, de fato, um desafio para nós.

E nossa missão não acaba com a morte do paciente, pois é nesse momento que as famílias necessitam de atenção e cuidado especializados para os ajudarem a superar a perda. As dificuldades do recomeço para as famílias enlutadas são uma realidade.

Assim, a equipe multidisciplinar fica à disposição para oferecer o suporte necessário e ainda realizar visitas domiciliares de acompanhamento. Um momento difícil para todos, pois, pela primeira vez, será realizada a visita sem a presença do paciente querido. Durante todo o processo, aprendemos o quanto é complexo para os familiares e desafiador para nós enquanto profissionais, que acima de tudo somos humanos, sentir e compartilhar da mesma dor, afinal, a despedida representa o fim da nossa caminhada juntos. Porém, mesmo durante o acompanhamento das famílias enlutadas, deixamos claro que elas sempre serão atendidas, ou seja, nosso vínculo não é rompido, pois, para muitos, é nesse momento que eles mais necessitam do nosso cuidado.