Pacientes com câncer apresentam diversas alterações metabólicas, bioquímicas e fisiológicas causadas pela presença das células tumorais, levando a um estado de hipermetabolismo ou um catabolismo exacerbado, aumentando as demandas energéticas e estado inflamatório do organismo. Além disso, sabemos também que o tratamento para este tipo de patologia traz consigo muitas consequências que afetam diretamente a aceitação alimentar dos pacientes.
A quimioterapia e a radioterapia, terapias mais utilizadas, trazem consigo efeitos colaterais como náusea, vômito, diarreia, inapetência, mucosite, boca seca, alterações no paladar, dentre outros; sintomas estes que influenciarão diretamente no estado nutricional do paciente, podendo levar à um estado grave de desnutrição e até mesmo à síndrome da anorexia-caquexia, diminuindo sua resposta ao tratamento e elevando o risco de morte. No entanto, pacientes que passarão por procedimentos cirúrgicos ou pelo transplante de medula óssea não estão menos expostos às complicações e aos riscos nutricionais.
A imunonutrição foi definida como “uma forma de alimentação artificial que objetiva a renovação das células para resposta imune” (Hallay et al. apud Oliveira H. S. D. et al, 2010). Trata-se de uma dieta especial enriquecida com diversos nutrientes que possuem certo efeito terapêutico em alguns órgãos e/ou sistemas vitais (sistema imune, intestino, fígado, etc.). Diversos estudos têm revelado que esta estratégia reduz uma série de complicações perioperatórias e diminui o tempo de internação hospitalar. Os principais nutrientes utilizados tem sido a arginina, glutamina, ácidos graxos ômega-3 (de origem marinha) e antioxidantes ácidos nucléicos e adicionais como vitaminas e minerais.
O ácido graxo ômega-3 tem sido associado à redução do volume tumoral, melhora do peso corporal e da anorexia, supressão da produção de substâncias pró-inflamatórias, aumento da ação da insulina, além de diversos outros benefícios. A glutamina já é conhecida por sua atuação na proteção da barreira intestinal, aumento das células imune, e também prevenção contra mucosite grau III e IV (inflamação nas mucosas orais – bochecha, língua, céu da boca, gengivas e garganta). As vitaminas e minerais são componentes imunomoduladores essenciais, dentre eles podemos destacar as vitaminas E e C, o selênio e o zinco. Estudos mostram que vitaminas antioxidantes podem influenciar positivamente no prognostico de pacientes criticamente doentes.
A imunonutrição vem sendo estudada desde a década de 90 e hoje diversas evidências não deixam dúvidas sobre seus benefícios no tratamento de pacientes com câncer, tanto em adultos, como no público infantojuvenil. A combinação de nutrientes para a terapia nutricional que será utilizada deve ser feita respeitando a individualidade de cada paciente e a suplementação deve ser iniciada a partir do diagnóstico e mantida até que não haja mais risco nutricional.
Escrito por Priscylla Kelly Abrantes – Nutricionista – CRN 14096.