Professor – uma palavra que traz com ela uma diversidade de significados. Nos remete diretamente ao local onde passamos grande parte da nossa vida – a escola. Essencialmente, é aquela pessoa que nos ensina uma diversidade de saberes, que troca, que provoca e media as relações entre o aprendente e o aprendizado. É aquele que nos estimula a aprender mais, é o parceiro, amigo, até confidente. Às vezes, é também a figura que dá medo, não da pessoa, mas daquele conteúdo que insiste em não ser compreendido, dos testes, dos trabalhos e das tão temidas provas! Quem não tem um nome guardado na memória daquele professor que marcou a sua própria história?
Tantos são os papéis assumidos pelo professor durante o processo de desenvolvimento humano que, por vezes, se confundem com a nossa própria história de vida. Mas, quando parte desta história é marcada por um diagnóstico médico devastador, estará comprometida a relação do aluno com este profissional? Com a escola? Com o seu aprendizado?
Para muitas crianças e adolescentes é dentro do hospital que o reencontro com o professor acontece. Diante de tamanha incerteza sobre a condição de saúde e perspectiva de vida, há um profissional disposto a fazê-la pensar no futuro, a substituir o vazio ocasionado pelo medo do tratamento médico, por um leque gigantesco de aprendizado e perspectiva de futuro.
É na classe hospitalar ou na escola do hospital que a educação alcança novamente os educandos, sendo um momento de segurança diante de tantas incertezas, pois é através dela que o contato com o universo do lado de fora do hospital acontece, que a rotina de vida é reestabelecida (na medida do possível) e que a oportunidade de um novo encontro com a aprendizagem acontece.
No ambiente hospitalar, a práxis pedagógica sobressai ao que se estabelece nas escolas regulares. Neste ambiente, aliar o conhecimento e o afeto é essencial para o desenvolvimento das ações educativas. A exigência vai além da transmissão dos conteúdos escolares, mas também precede o conhecimento, mesmo que mais superficial, das práticas terapêuticas, procedimentos médicos estabelecidos, os diagnósticos, bem como, os desdobramentos tanto físicos, quanto psicológicos, ocasionados pela doença.
É necessário compreender o quadro de saúde do aluno e trabalhar respeitando sua condição física e mental, levando em consideração, principalmente, os sentimentos do educando (medo, agressividade, resistência, incertezas, dentre outros). Nesse sentido, há uma troca constante de aprendizado. Quem ensina aprende e quem aprende ensina, constantemente.
Em meio a essa troca de aprendizado, o professor aperfeiçoa sua prática e, por vezes, trabalha transformando os procedimentos e a rotina hospitalar em um meio de aquisição de conhecimentos, de forma lúdica, utilizando o contexto do aluno como ferramenta de ensino aprendizagem.
As atividades na classe hospitalar exigem também do profissional grande flexibilidade e criatividade relacionada a transmissão dos conteúdos. O trabalho com viés lúdico e interdisciplinar é a base forte para a construção de um processo educativo significativo, pois faz com que o aprendizado ocorra de maneira prazerosa, sobressaindo às dores, medos e incertezas do tratamento médico. Sugere-se que as atividades ocorram com início, meio e fim no mesmo dia.
Além da relação direta com o aprendente, o professor também assume papéis significativos para a família. Por vezes, atua com interlocutor entre a equipe médica, o paciente e seus entes. Por meio do diálogo estabelecido, se formam os vínculos de confiança, o que possibilita uma atuação mais significativa dentro da sala de aula.
Diante de tantos papéis, de tamanhas exigências, da diversidade de particularidades e da abrangência de possibilidades educativas, é importante compreender que antes de profissional, o professor é humano e é exatamente nesse ínterim que o cuidado deve ser redobrado. Trabalhar na classe hospitalar exige tamanho cuidado físico e psicológico, cabe continuamente autorreflexões sobre sua prática diária, seu envolvimento com a profissão, bem como, com os alunos e familiares.
Atuar no ambiente hospitalar é também lidar com a possibilidade de perdas a todo o momento na rotina de tratamento médico das crianças e adolescentes. Nesse contexto, é preciso antes de tudo respeitar os limites do outro, atuando com ética e humanidade, mas também respeitar os próprios limites, criando estratégias de enfrentamento das dificuldades, observadas no cotidiano da classe hospitalar.
O Ser professor no hospital é, assim, ser para si e para o outro. É pensar e atuar na educação com respeito aos direitos do aluno e de suas necessidades educacionais. É assumir o papel de provocador e mediador não somente de conteúdos formais, mas estar pronto para ouvir os mais diversos questionamentos sobre o tratamento médico; é estar pronto para ganhar e perder na batalha da vida, mas, principalmente, é possibilitar, enquanto possível for, o acesso à uma educação significativa e de qualidade, pois o futuro na classe hospitalar, é já.
Gabriella Pereira do Nascimento
Coordenadora Pedagógica – Casa Durval Paiva.