O adoecimento, além de sintomas físicos, traz repercussões emocionais para os pacientes e familiares. O modo como eles irão vivenciar o processo de tratamento depende do tipo da doença, do tratamento que será proposto pelos médicos e do enfrentamento diante de experiências traumáticas passadas. O paciente ao ser encaminhado para um Oncologista, por exemplo, pode sofrer um forte impacto emocional inicial, uma vez que algumas fantasias, crenças e estigmas são criados diante de tal situação. A palavra “câncer” muitas vezes está associada à ideia de “sentença de morte”.
Durante o tratamento oncológico, pacientes e familiares frequentam o hospital – instituição que carrega a marca de cuidado, porém, também tem a marca de adoecimento, dor e sofrimento, em que os sentimentos negativos podem ser reforçados. No ambiente hospitalar, paciente, família e equipe apresentam demandas psicológicas que requerem bastante atenção.
Durante a internação, o paciente tem a angústia sobre o seu prognóstico, tem medo da incapacidade ou da morte, se dispõe a um atendimento para tratar da doença, entregando a sua vida/corpo nas mãos de pessoas que trabalham para alcançar a cura. Muitas vezes, esses pacientes perdem a autonomia, pois têm uma rotina pré-determinada, tendo que permanecer no leito e seguindo normas institucionais. A família acompanha todo o processo, dentro das suas possibilidades, respeitando as normas da instituição, participando do adoecer do paciente, da internação e da recuperação do mesmo.
A rotina hospitalar temporaliza as experiências vividas com a doença, o tempo da hospitalização, dos retornos ambulatoriais, da duração dos procedimentos associados ao tratamento, das questões como “quando terminará a internação?”, “Quando será o retorno?”, “Será que dessa vez vou poder ir para a minha casa ver minha família ou vou ter que ficar na Casa de Apoio?”. Tudo isso é vivenciado com bastante medo e ansiedade.
O impacto emocional da dificuldade em se adaptar a rotina hospitalar na internação também pode ser manifestado por questionamentos do paciente em relação ao horário da medicação, do banho e da alimentação. Eles passam a conviver com os soros e medicamentos e com um sentimento de ameaça à integridade física vivida por meio de preocupações com as cicatrizes ou pela onipotência abalada. A família passa a ocupar um mundo estranho e hostil, a ter um envolvimento com os jargões médicos e com os procedimentos cirúrgicos.
Durante a hospitalização, pode haver uma mudança na rotina familiar, o que algumas vezes causa certa desestruturação na família. É comum que o cuidador principal deixe de trabalhar para poder se dedicar integralmente aos cuidados que o paciente necessita. Na maioria dos casos que acompanhamos na Casa de Apoio Durval Paiva, são as mães que abdicam de suas atividades para viver a nova rotina com o seu filho, dessa vez, uma rotina cheia de cuidados médicos e procedimentos da equipe de enfermagem.
Em geral, as famílias se envolvem com o que acontece durante o tratamento, desde o momento do diagnóstico até as intercorrências, tudo gira em torno do paciente e de seu estado físico e psíquico. Assim, há desespero quando o paciente passa mal, sustos caso algo diferente aconteça e superproteção no cotidiano familiar, muitas vezes, invadindo a intimidade e a privacidade da pessoa. É preciso ter cuidado com os pacientes e com os familiares que passam por um momento de crise, uma vez que pode ocorrer um desequilíbrio entre a quantidade de questões estressoras que surgem e os recursos psicológicos disponíveis para enfrentar tal situação.
Escrito por Laíse Santos Cabral de Oliveira – Psicóloga – CRP 17-3166.