Para além da notícia: o suporte social no luto

Para além da notícia: o suporte social no luto

Para além da notícia: o suporte social no luto

Keillha Israely 

Assistente Social da Casa Durval Paiva.

CRESS/RN 3592

Já está arraigada a profissão do assistente social a falácia de que este é o profissional responsável por avisar aos familiares quando ocorre o luto. No entanto, é necessário desconstruirmos tal concepção. Posto que, nossa atuação é para além da notícia. Somos profissionais liberais inscritos na divisão social e técnica do trabalho, com Lei de regulamentação, Código de Ética, parâmetros e princípios de atuação, firmados na defesa da liberdade como valor ético central, atuando diretamente nas diversas expressões da questão social.

Nos mais diversos campos de atuação profissional, lidamos com as mais complexas situações de vulnerabilidade social, violação de direitos e violência. E podemos afirmar que nosso fazer profissional é para além de noticiar óbitos. Tal ação, teoricamente qualquer pessoa pode fazer, mas oferecer o suporte social nesse momento, é um fazer nosso. Nesse momento, é necessário apreendermos a situação em sua totalidade, acolhendo as demandas e realizando os encaminhamentos necessários.

Na Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva, o serviço social atua há mais de 20 anos e lidamos diariamente com situações de superação, vida, e também de morte. São conjunturas que afetam diretamente o emocional, porque no cotidiano de acompanhamento nos aproximamos e construímos vínculos com os pacientes e seus familiares, e também somos pegos de surpresa. Mas é nesse momento que precisamos ultrapassar as barreiras emocionais e encarar a situação, oferecendo o suporte social, o acolhimento, a escuta qualificada e os encaminhamentos necessários para que a família tenha acesso ao que é dela de direito. Muitas vezes em meio a situação de desespero, tristeza e dor, estas famílias não sabem nem por onde começar. Afinal, não é fácil pra nenhum familiar organizar o funeral de um ente querido, um filho, na maioria das vezes.

Recentemente, acompanhamos o caso de uma adolescente de 17 anos, que residia no interior, encaminhada com diagnóstico de Leucemia, que estava há um ano em tratamento, assídua na instituição e nas atividades e intervenções diárias, foi aos poucos conquistando a todos com seu jeito meigo e extrovertido. No entanto, numa sexta-feira à tarde ela apresentou sinais de febre e foi encaminhada para o hospital. Seu estado de saúde se agravou ao ponto de ir para a UTI no dia seguinte, não resistindo e chegando à óbito na segunda-feira a noite. Em meio a esse turbilhão, está sua mãe, que à acompanhava durante todo o processo de tratamento. Mulher simples, que nunca tinha saído de seu recanto, mas precisou enfrentar os medos e anseios de vir para a capital, em busca da cura da filha. Diante da notícia, ela não conseguia sequer ligar para os demais familiares, pois, não sabia como agir. Nesse momento, o suporte social de toda a equipe do hospital e da Casa de Apoio foram fundamentais, pois ela não precisava só da notícia, naquele momento ela necessitava de todo aparato e suporte social para dar andamento aos trâmites legais e assim poder se despedir de sua filha.

É salutar destacarmos que a atuação multidisciplinar e intersetorial é sempre necessária. A interlocução com a rede socioassistencial foi fundamental para a família que não tinha condições financeiras de arcar com as despesas do funeral e recebeu o auxílio do município em que residia, benefício esse que está garantido na política de Assistência Social. Assim, afirmamos que o suporte social durante e após episódios como esse é primordial e de extrema importância para todas as famílias.