Keillha Israely
Assistente Social – Casa Durval Paiva
CRESS/RN 3592
Receber a notícia de que seu filho está com câncer não é fácil, para muitos é uma verdadeira “bomba” que cai na vida e que altera toda a rotina e dinâmica familiar. O tratamento é longo e repleto de desafios – exames, procedimentos, medicações com nomes difíceis, febres, enjoos e muitas furadas, que parecem que doem também em quem está perto.
O serviço social da Casa Durval Paiva tem acompanhado histórias de várias famílias, nas suas mais variadas configurações e condições socioeconômicas. Por meio dos atendimentos individuais, em grupo e visitas domiciliares sempre temos a oportunidade de conhecer as famílias, os vizinhos, a rede de apoio e as condições de moradia. Assim, é possível ver e conhecer o que não conseguimos apreender nos atendimentos realizados na instituição. Muitas dessas histórias ficam guardadas, e uma em especial.
Tivemos a oportunidade de acompanhar de perto o caso de uma menina de um ano de idade, que mora na região metropolitana de Natal, e que foi diagnosticada com Hepatoblastoma, câncer de fígado, o tumor estava grande e já comprometia todo o órgão. A família foi encaminhada para a casa de apoio e a mãe estava desesperada, e com diversos questionamentos. “Como isso pode surgir em uma criança tão pequena?”, “Será que ela vai suportar um tratamento tão agressivo”? Será que eu vou conseguir acompanhar e vivenciar a tudo isso?”. Esses foram algumas das perguntas no atendimento inicial, no primeiro acolhimento. É nesse momento que precisamos acolher e entender as demandas que a família traz para então encaminhar para os outros profissionais. O primeiro contato é sempre fundamental na construção de vínculos, mas, acima de tudo, é fundamental para passar segurança ao acompanhante.
Após poucos meses de tratamento, com quimioterapia, a família foi encaminhada para São Paulo, pois, segundo relatos da mãe, a única chance de vida para a criança seria o transplante. Mas, o que isso significava? Retirar o fígado “doente” e substituir por outro, mas quem iria doar? Começou então, uma corrida contra o tempo para encontrar um doador compatível, assim, a família nuclear foi então chamada, exames e mais exames, e o pai da paciente foi compatível. A partir daí a criança foi para São Paulo, sendo necessário buscar os meios para tal viagem, ajuda de custo, passagens e uma casa de apoio para acolher a família. A mãe acompanhava de perto e percorria esses caminhos cheia de dúvidas e medo.
Mas, ainda tinha outros fatores que a angustiavam, a ideia de sair de casa, do seu lar, para buscar a cura da filha mais nova, e se preocupava também com o filho mais velho, com apenas 8 anos de idade que precisava ficar. Felizmente, ela pôde contar com o apoio e ajuda também dos familiares.
Foram dias e meses em outro Estado, em um hospital novo, com uma equipe até então desconhecida. Entretanto, mesmo de longe, a equipe multidisciplinar da Durval Paiva acompanhou esse processo, nos encaminhamentos e atendimentos individuais, orientações e nas visitas domiciliares a família e ao irmão da paciente, no processo de afastamento do pai (doador) do trabalho, pois, o mesmo precisou se ausentar por alguns dias para passar pelo procedimento de doação.
Após o transplante, depois de longos dias de reabilitação, foi importante acompanhar, mesmo que de longe, a evolução e recuperação da paciente, e com o seu retorno, celebramos junto com a família a sua grande conquista. Quando paramos para pensar nessa e em outras tantas histórias, percebemos o quanto o amor e a coragem dessa e de várias mães são fundamentais nesse processo de luta e busca pela cura. Amor esse que transpõe fronteiras, que percorreu vários quilômetros em busca de tratamento para salvar a vida da sua filha, e assim como ela, temos tantas outras, que um dia, esperamos poder contar.