Keillha Israely
Assistente Social – Casa Durval Paiva
CRESS/RN 3592
Silêncio: estado de quem se cala ou se abstém de falar. Esse é o significado da palavra “silêncio”, segundo o dicionário da Língua Portuguesa. Entretanto, o que significa o silêncio para nós? Quais circunstâncias calam-nos? Por que muitas vezes é melhor se calar do que externalizar o que está sentindo? São muitos questionamentos que requerem respostas, e nem sempre as temos.
Muitas vezes, o silêncio é a única forma de expressão que as famílias utilizam após a confirmação de um diagnóstico de câncer, principalmente se esse for de um filho, neto, sobrinho, irmão, enfim, quando é de uma pessoa próxima e querida.
A notícia é recebida como uma onda gigante que vem invadindo e mudando tudo de lugar. As vidas envolvidas são completamente modificadas, pois, a partir de então, a rotina vivenciada por elas nunca mais será a mesma. Algumas pessoas passam por um longo período de negação da doença e fecham-se de todas as formas, pois não é fácil encarar um tratamento oncológico.
As mudanças são sentidas desde o início do tratamento, com consultas, exames, períodos longos de internação no hospital, muitos procedimentos e noites mal dormidas. Comumente, precisam vivenciar a saída inusitada do emprego, o afastamento do lar e dos outros filhos, amigos e familiares. São situações complexas, e cada pessoa tem a sua forma de encará-las. Algumas extravasam falando o que sentem a todo momento de forma simples e constante, outras apenas choram. Existem também as que não conseguem chorar de forma alguma, dizem que sentem como se estivessem com algo preso, não externalizam, enquanto outras apenas silenciam.
Esse silêncio é apreendido por nós, enquanto equipe que acolhe e acompanha o paciente e sua família durante todo o tratamento, e ele fala muito. Fala da dor, do medo, da angústia, da apreensão de não saber o que realmente vai acontecer daqui pra frente, fala da saudade da rotina e modo de vida que tinham, de como eram e como estão.
E o silêncio é utilizado, de modo constante, não só no primeiro atendimento no serviço social, mas nas visitas domiciliares e hospitalares, nos atendimentos de acompanhamento e nos grupos de acompanhantes. Esse silêncio fala muito para nós, podemos dizer que ele soa alto, pois na convivência diária e no cotidiano profissional passamos a conhecer melhor cada demanda e necessidade que os pacientes e suas famílias trazem e, a partir daí, buscamos os caminhos para encaminharmos e viabilizarmos o que for necessário, a fim de atendermos a cada um com dignidade e enquanto sujeitos de direitos.
É desafiador a cada dia extrair tais elementos a partir do silêncio, mas podemos afirmar que compreendemos cada fase de aceitação, enfrentamento e superação vivenciada pelos pacientes e, principalmente, por seus acompanhantes. Ademais, a luta pela cura é longa e árdua, é um caminho repleto de altos e baixos, e o medo é um elemento que os seguem durante todo esse caminho, pois, mesmo quando os pacientes estão numa fase de resultados e exames bons, defesas altas ou manutenção do tratamento, o medo da recaída sempre é sentido. Na maioria das vezes, esse medo é refletido também por meio do silêncio.