A maioria das mulheres na sociedade contemporânea se desdobra para assumir distintas áreas de forma cada vez mais dinâmica e multifacetada, em decorrência de muita luta por direito de igualdade, liberdade e independência.
Contudo, existe um grupo de mulheres que, apesar de terem contribuído para esses avanços, viram-se no dever de trocarem todas essas conquistas pela primeira atividade que a elas foi atribuída: a dedicação integral aos filhos.
Nesse contexto, a confirmação que uma criança ou adolescente está diagnosticado com câncer é algo subitamente inesperado, capaz de desconstruir e desorganizar a vida interna e externa do paciente e seus familiares. São muitos medos e incertezas sobre um assunto que automaticamente associamos à morte ou falta de qualidade de vida.
Verificamos no Setor de Psicologia da Casa Durval Paiva que o impulso inicial de grande parte das mães que se depara com um filho com câncer, é abrir mão da própria vida para viver em função dos cuidados com o jovem ou a criança. Sua empatia é tão verdadeira que ela se afasta inteiramente do trabalho, dos afazeres domésticos, da vida social, do relacionamento conjugal, do autocuidado e até dos filhos que não estão doentes.
Na maioria das vezes, a mãe é a componente familiar que mais altera sua rotina, pois é quem acompanha o paciente durante todo o período de hospitalização. De fato, o papel materno no processo saúde-doença do filho, é de extrema importância. Normalmente, o ambiente hospitalar é um espaço frio, cercado de estranhos e de procedimentos dolorosos e invasivos, onde a mãe é a maior ou a única referência de acolhimento e segurança. Estudos revelam que durante a internação, a criança torna-se mais carente dos cuidados maternos para que possa satisfazer suas necessidades físicas e emocionais, assim como a presença da genitora contribui para que os objetivos do tratamento sejam alcançados, mais facilmente.
Contudo, se não for bem administrada, a dependência entre a mãe e filho pode permanecer mesmo após o tratamento, revelando grande desgaste físico e emocional para ambos. O filho passa a se sentir sufocado de cuidados excessivos ou ainda indica comportamento passivo e acomodado. A genitora, por sua vez, mostra-se fragilizada emocionalmente, não consegue mais equilibrar os outros setores da vida, tendo sobre si toda a sobrecarga emocional e o acúmulo de responsabilidades, esboçando muitas vezes, sintomas associados ao estresse, depressão, ansiedade e outros.
Neste contexto, sugerimos algumas intervenções que exigem a participação mais efetiva dos demais familiares e da equipe de saúde que acompanha o paciente no tratamento e pós-tratamento. A família é orientada a se reorganizar no que diz respeito à redistribuição de tarefas, alterando assim não apenas a rotina da genitora. Já os profissionais de saúde, podem contribuir buscando compreender o significado que a mãe atribui ao fato de ter um filho com câncer e em que contexto familiar essa enfermidade está inserida. As cuidadoras precisam também de um espaço de escuta e acolhimento psicológico, assim como de grupos terapêuticos que as acolham e as faça compartilhar um problema comum.
Por fim, a mãe precisa aceitar que o tratamento é uma fase e que se anulando ou abandonando todos os cuidados sobre si, reduzirá suas possibilidades de crescimento pessoal e do filho. Este precisa ser encorajado a seguir seu caminho com segurança e auto-estima. Após o tratamento, a mulher deve retomar suas atividades anteriores (ou conquistar novas), buscando se reorganizar nos setores em que esteve ausente, descobrindo novos sentidos para sua existência.
Escrito por Sylvana Roberta Botelho Miranda.