Ao falarmos sobre um assunto como o câncer, seja em qual âmbito for o semblante das pessoas muda. Entende-se que um tratamento contra o câncer, é algo pesado, sério e maçante. Muitas vezes ao falarmos sobre o câncer infantojuvenil, nos deparamos com falas do tipo: “Em adulto a gente até espera…”; “Em adultos a gente até entende, mas em crianças…”, como tantas outras falas, ou seja, a empatia das pessoas com relação ao câncer é imediata.
Se para as pessoas que estão fora desse convívio e fora dessa realidade que é o tratamento contra o câncer sente-se tocadas e se sensibilizam sobre o assunto, imagine a família do paciente, quando recebe a notícia de que seu filho, neto ou sobrinho foi diagnosticado com câncer. É algo impactante, de difícil aceitação, é o momento em que o indivíduo se encontra com o seu “eu” e questiona sobre muitas coisas na vida. Demora um pouco para a “ficha” cair, mas, no decorrer de algumas semanas, uma armadura vai sendo criada, pois esse adulto precisa ser forte, demonstrar bravura e segurança, para que junto ao seu familiar consiga processar essa informação, além de ajudar na nova rotina familiar, nas idas ao médico e no enfrentamento do tratamento em busca da cura.
Ao cobrarmos essa armadura dos adultos, pois comparados com as crianças estão bem mais “preparados”, esquecemos que dentro deles também bate um coração não preparado para a notícia, que tem medo, mas terão que mascará-lo. Na realidade, os adultos também precisam ser acolhidos, se sentir seguros, reunir e transmitir forças. Muitas vezes, direcionamos nossos cuidados ao paciente, quando esses cuidados devem ser estendidos aos familiares do mesmo, pois serão eles que, juntamente com o paciente, terão suas rotinas familiares totalmente alteradas, que irão estar ao lado do paciente sempre que precisar e que terão de ser fortes, quando nem sabiam que precisariam ser.
Na Casa de Apoio a Criança com Câncer, os cuidados vão para além do paciente, quando acolhemos toda a família. Uma das formas de desenvolver esse trabalho é o acolhimento realizado na Sala de Artes da instituição, onde as mães e acompanhantes desenvolvem trabalhos artesanais. Essa atividade é empreendida com a finalidade terapêutica, para que essas mães possam sentir-se amparadas, dividir um pouco o peso e carga que estão levando e consigam socializar com outras mães e acompanhantes sobre o novo cotidiano.
É interessante ver como a arte consegue mudar a vida dessas mães e acompanhantes. No momento que chegam à sala de artes estão debilitadas, com baixa autoestima, fragilizadas, mas com alguns meses de trabalhos manuais, começam a se envolver nas atividades, se expressar através da arte e melhorar sua saúde através da terapia, uma vez que, elevando sua autoestima, consequentemente, se obtém a melhora da imunidade, beneficiando também para além da vivência com outros familiares, levando ao melhor enfrentamento da rotina hospitalar.
Assim, o enfrentamento realizado através da arte promove o retorno da autoestima desse acompanhante e, consequentemente, do meio em que ele está inserido, abrindo um novo horizonte para o retorno da alegria, da comunicação, resultando na melhor defrontação em busca da cura.
Por Patrícia Oliveira Araújo
Arte Educadora – Casa Durval Paiva