Fabio Ferreira
Gestor de TI – Casa Durval Paiva
As crianças nascidas a partir de 2010 formam uma nova geração para quem o mundo analógico é um passado distante e a tecnologia é uma extensão de sua forma de conhecer, pensar e sentir o mundo. Para quem considerava que ninguém seria capaz de superar a geração Y e a geração Z em conhecimentos sobre tecnologia, estava bastante equivocado. Chegamos ao momento de dar as boas-vindas à geração alfa, a primeira que é 100% nativa digital (A geração X, são pessoas que nasceram do início de 1960 até o início dos anos 1980; a geração Y contempla aquelas que nasceram entre o fim dos anos 1980 e o início dos anos 1990, e a geração Z é formada por aqueles que nasceram entre 1992 e 2010).
Segundo o pesquisador americano Pew Research, analisar as gerações oferece “[…] uma forma de entender como acontecimentos globais, econômicos e sociais interagem entre si para definir a forma como vemos o mundo […]” e, dessa forma, fica claro como a próxima geração está enxergando a realidade: por meio de uma tela. “[…]. Antes, as gerações eram definidas a partir de acontecimentos históricos ou sociais importantes. Hoje, são delimitadas pelo uso de determinada tecnologia […]”, explica o psicólogo Roberto Balaguer, professor da Universidade Católica do Uruguai e autor de diversos livros sobre educação e tecnologia.
Joe Nellis, professor da escola de negócios Cranfield, no Reino Unido, define a geração alfa como a formada pelas “[…] crianças nascidas desde 2010, o ano em que a Apple lançou o iPad”. Nenhuma geração até agora se compara à geração alfa – formada pelos filhos dos milenais ou da chamada geração Y – nesse aspecto. A principal mudança da geração anterior para a atual é que os alfas não veem mais os dispositivos digitais como ferramentas. Em vez disso, enxergam a tecnologia como parte integrante de suas vidas, ou seja, para eles é impossível imaginar um mundo sem ela. Dessa forma, a separação entre o mundo físico e o digital não faz mais sentido.
Esse tem sido o grande desafio para os profissionais que atuam com educação na Casa Durval Paiva, a qual acolhe crianças com câncer e doenças hematológicas crônicas. Estamos começando a lidar com crianças que apresentam menos interações pessoais por meio de histórias narrativas e menor intercâmbio de linguagem, o que provoca mais problemas de intercomunicação oral do que identificávamos há uma década, assim como maior incidência de transtornos oftalmológicos e de déficit de atenção, causados pelo longo tempo dispendido em frente à tela de um monitor.
As crianças da geração alfa já nasceram com as respostas para praticamente qualquer pergunta ao alcance de um toque no Google. Um grande desafio para as famílias e nós educadores é saber como educá-los em meio a tantas transformações. Como garantir para os pequenos a diversão e a leveza da infância e ao mesmo tempo prepará-los para esse mundo novo? É claro que ainda não há uma resposta para uma pergunta tão complexa, mas já é possível apontar alguns caminhos. Essa geração vai conviver com tecnologias cada vez mais avançadas de inteligência artificial e o seu papel no mundo será justamente trazer o diferencial humano. Portanto, habilidades como a criatividade, a empatia e a inteligência socioemocional tornar-se-ão cada vez mais valiosas, devendo ser estimuladas por pais e educadores desde a infância.