Refletindo sobre as incertezas dos familiares em compreenderem o cotidiano dos filhos, em uma nova fase em que estão sendo submetidos a um processo terapêutico, por terem apresentado algum problema de saúde, surgem algumas reflexões acerca de como estes cuidadores estão lidando com essa novidade e como podem ter o apoio necessário nesse momento.
Independentemente da situação social, demográfica ou econômica, as pessoas tendem a se unirem diante do adoecimento e os familiares lidam, por vezes, com algumas dificuldades, como de assimilarem o cotidiano das pessoas acometidas por alguma doença ou mesmo deficiência, assim como, surgem muitas dúvidas diante do desconhecido, fazendo com que busquem formas de lidarem com a doença, como também, com toda mudança de rotina estabelecida à família. Nesse caso, dá-se a importância de ampliar a abordagem clínica, priorizando a escuta para as queixas da família e cuidador, já que a intervenção terapêutica pode estar centrada no doente, ficando ao contexto familiar em segundo plano.
Considerando que é através das relações familiares que os acontecimentos sociais da vida se definem e ganham significados e onde também cada um tem a oportunidade de arquitetar sua própria identidade, é necessário refletir que lugar essa pessoa que se encontra doente ocupa no contexto familiar, porque, dependendo de como seja a educação ou superproteção, que lhe são oferecidas, por exemplo, a autonomia, os limites e as relações desse paciente podem ou não ser comprometidos, interferindo diretamente em como se dará a independência de acordo com as possibilidades individuais de cada paciente.
Diante da vivência diária com as famílias, podemos reunir as principais queixas trazidas pelos acompanhantes dos pacientes oncológicos e hematológicos assistidos pela Casa de Apoio Durval Paiva, como: a dificuldade em acompanhar e compreender as situações de perdas e dependência do filho; a mudança na rotina do contexto familiar de forma tão brusca, onde precisam se distanciar dos outros filhos e esposo; a necessidade, por vezes, de se ausentar do trabalho, negligenciando sua própria vida, com grande sobrecarga e ainda os medos frente ao tratamento proposto ao filho; a ansiedade e como será a vida deste após o tratamento, se conseguirá atingir a independência e a autonomia tão esperada para uma vida com mais qualidade.
Na rotina com os pais na instituição, percebemos a importância da aproximação do terapeuta ocupacional, que atua com uma visão mais generalista sobre o processo saúde e doença, em relação à escuta aos familiares, como uma forma de compreender suas dificuldades e acolher suas angústias, uma vez que estas pessoas estão diretamente envolvidas com o sofrimento, a dor e situações desconhecidas, que interferem na convivência familiar. Nesse contexto, o profissional pode desenvolver um plano de tratamento que atenda às necessidades do paciente e de seu entorno social.
Sendo a família parte integrante do processo terapêutico, visamos proporcionar uma fase de tratamento mais humanizado tanto para o paciente, como para seu contexto familiar. As intervenções da terapia ocupacional são centradas no acolhimento da dor, da desesperança dos cuidadores, considerado a solidariedade e o afeto, auxiliando-os no significado da vida.
Lady Kelly Farias da Silva
Terapeuta Ocupacional – Casa Durval Paiva
Crefito 14295-TO