Um adolescente e as incertezas do transplante

Um adolescente e as incertezas do transplante

Um adolescente e as incertezas do transplante

Soraya Mendes Guimarães 

Assistente Social da Casa Durval Paiva.

CRESS/RN 1249

Essa é a história de um adolescente de 15 anos que luta contra o câncer e está se preparando para o transplante de medula óssea, vamos chamá-lo de Nil e o seu responsável de Fran.

Tudo começou há seis anos, Nil, uma criança saudável, membro de uma família com várias vulnerabilidades sociais, mas que levava uma vida “normal” para sua realidade, frequentava a escola, tinha amigos, participava do time de futebol e conseguia fazer muitos gols, o que o tornou popular e admirado por seus pares. De repente, começou a sentir-se indisposto, fadigado, sem muito ânimo para participar das atividades cotidianas. No inicio, seus pais acharam que era preguiça e não se preocuparam muito, mas quanto perdeu o interesse pelo futebol resolveram procurar um médico e foi detectada uma anemia, que foi cuidada, mas não respondia aos medicamentos.

Nil foi encaminhado para um especialista e novos exames mostraram o que realmente ele tinha era Leucemia. Com o diagnóstico, tudo começou a mudar, no início a incerteza, afastamento dos irmãos, dos amigos e do time, a saída da escola, o isolamento, as baterias de exames e as internações constantes se tornaram um desafio para uma criança com medo do desconhecido. Foram vários meses de tratamento, dias estava bem, outros se sentia péssimo, tanto físico, como emocionalmente. Fran, que acompanhou de perto o tratamento, também se sentia fragilizado e, muitas vezes, pensava em desistir. Nunca foi uma pessoa forte, mas a vida o ensinou que lutando conseguiria vencer algumas batalhas. Com o passar do tempo foram conhecendo o Câncer e como enfrentá-lo. Estabeleceram, com ajuda dos profissionais, uma nova rotina e conseguiram concluir o tratamento e ter alta.

Alguns meses depois, quando tudo parecia estar resolvido e retomada a vida normal recebeu a notícia da recidiva da Leucemia. Vieram novos exames, novos médicos, novo protocolo. Nessa ocasião, foram encaminhados e acolhidos pela Casa Durval Paiva. “Novas pessoas, novos profissionais que nos tratavam diferente das outras Casas de Apoio por onde passamos. Tudo diferente… tem dias que gosto, sei que estão preocupadas comigo, mas ao mesmo tempo são pessoas estranhas querendo que faça as coisas do jeito delas, dizem que é para o meu bem, mas sempre fiz tudo do meu jeito e é difícil mudar. A medicação me deixa fraco, enjoado e normalmente quero ficar o tempo todo no quarto, jogando no meu celular, mas não deixam. A professora quer me levar para sala de aula. A Psicóloga ou assistente social vem me buscar para participar de alguma atividade. As vezes elas me convencem a participar e até gosto e me divirto, aprendo coisas novas. No fundo acho bom aqui, tem um monte de coisa, tem o vídeo game e os meninos da minha idade, que quando estão na casa de apoio a gente brinca e eu me divirto… A médica me disse que vou precisar fazer transplante de medula, fizemos um monte de exames e meu irmão vai ser o doador. Agora meu dia é assim, vou para o hospital fazer exames, radioterapia ou quimioterapia, passar pelas consultas ou avaliação para o transplante e volto para casa de apoio. Faz tempo que não vou em casa e sinto falta.”, diz Nil.

O relato desse adolescente faz com que a equipe multidisciplinar da Casa Durval Paiva perceba que muitas das reações consideradas como rebeldia, podem ser entendidas como forma de proteção, uma forma de demonstrar cansaço diante da luta que já dura tantos anos ou uma forma de disfarçar o medo do que estar por vir. Mesmo reconhecendo essas fragilidades, a função dos profissionais é identificar e estimular, nesse adolescente e familiares, seus potenciais para que possam juntos enfrentar o novo desafio que é o Transplante de Medula Óssea.