Keillha Israely

Assistente Social – Casa Durval Paiva

CRESS/RN 3592

Receber o diagnóstico de câncer não é fácil, muito menos quando se trata de um ente querido, bem como, as dificuldades do tratamento, as separações, a saudade de casa. Entretanto, a tão sonhada “volta pra casa”, o retorno para a família e para a rotina são aspectos que também fazem parte desse processo.

Quando os pacientes chegam na Casa de Apoio para o acolhimento junto com suas famílias, podemos apreender o medo que carregam, uma insegurança e incerteza sobre o que os esperam, além do desejo de voltar pra casa e para a normalidade que ficou para trás. No início, é bem desafiador para as famílias se adaptarem a nova rotina de consultas, exames e internações, principalmente, para os que ficam longe de casa. Estes precisam se adequar as novas regras e rotinas, na casa temporária, e isso não é fácil. Afinal, é um ambiente com pessoas desconhecidas, tudo novo.

Porém, com o passar do tempo, durante o acompanhamento vemos as mudanças a cada dia. Os até então estranhos tornam-se amigos, companheiros de internações e idas ao hospital, e a casa de apoio vai se tornando um segundo lar, ponto de referência, e muitas vezes, super desejada depois de diversos dias no hospital. Assim, vemos que ao longo do processo de tratamento o estranhamento inicial vai desaparecendo e dando lugar a familiaridade com o espaço e as pessoas.

Essa situação pode demorar anos para alguns e meses para outros, depende do diagnóstico e evolução do tratamento e quando chega o momento de remissão (momento em que não há atividade da doença), eles podem finalmente voltar para casa, para suas atividades. Nesse instante, o medo vem com força total, e agora é o receio de voltar para a rotina que perpassa a vida dos pacientes e seus familiares. O medo da doença voltar, de estarem longe do hospital e da equipe que os acompanhou de perto durante todo o tempo é uma insegurança que reflete diretamente nas suas ações.

Muitos pais e responsáveis relatam sobre esse medo e insegurança, e afirmam que temem o retorno dos filhos para as atividades rotineiras, o retorno à escola, por exemplo é um dos fatores mais citados por estes, pois por mais que os médicos liberem e assegurem a volta às aulas, muitos resistem por insegurança, e o medo diz respeito à tudo: dificuldade de adaptação, preconceito, possíveis acidentes e, principalmente, o retorno da doença. Entretanto, o medo da volta para casa envolve outros fatores.

Algumas mães relatam que sentem dificuldade de adaptação a rotina das suas próprias casas, que durante certo tempo passaram a ser administradas por outras pessoas: maridos, mães, sogras, irmãs, pela rede que tiveram apoio durante o tratamento dos filhos. Ou seja, o que era familiar passou a ser estranho.

Por esse motivo, o acompanhamento social é de suma importância do início ao fim do tratamento, visto que as alterações sofridas nesse processo tão delicado são sentidas por pacientes e seus familiares durante todo o tempo. Assim, podemos dizer que se trata de um enfrentamento diário de desafios e adaptações.